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Poemas de Fernando Pessoa

Todos os melhores poemas de Fernando Pessoa e Heterónimos. Amor, amizade, paixão e vida em todos os poemas.

Poemas de Fernando Pessoa

Todos os melhores poemas de Fernando Pessoa e Heterónimos. Amor, amizade, paixão e vida em todos os poemas.

Entre o luar e a folhagem

Entre o luar e a folhagem,

Entre o sossego e o arvoredo,

Entre o ser noite e haver aragem

Passa um segredo.

Segue-o minha alma na passagem

 

Ténue lembrança ou saudade,

Princípio ou fim do que não foi,

Não tem lugar, não tem verdade,

Atrai e dói.

Segue-o meu ser em liberdade.

 

Vazio encanto ébrio de si!

Tristeza ou alegria o traz?

O que sou dele a quem sorri?

Não é nem faz.

Só de segui-lo me perdi.

O Guardador de Rebanhos - X

«Olá, guardador de rebanhos,

Aí à beira da estrada,

Que te diz o vento que passa?»

 

«Que é vento, e que passa,

E que já passou antes,

E que passará depois.

E a ti o que te diz?»

 

«Muita coisa mais do que isso,

Fala-me de muitas outras coisas.

De memórias e de saudades

E de coisas que nunca foram.»

 

«Nunca ouviste passar o vento.

O vento só fala do vento.

O que lhe ouviste foi mentira,

E a mentira está em ti.»

Ah, como incerta, na noite em frente

Ah, como incerta, na noite em frente,
De uma longínqua tasca vizinha
Uma ária antiga, subitamente,
Me faz saudades do que as não tinha.

A ária é antiga? É-o a guitarra.
Da ária mesma não sei, não sei.
Sinto a dor-sangue, não vejo a garra.
Não choro, e sinto que já chorei.

Qual o passado que me trouxeram?
Nem meu nem de outro, é só passado:
Todas as coisas que já morreram
A mim e a todos, no mundo andado.

É o tempo, o tempo que leva a vida
Que chora e choro na noite triste.
É a mágoa, a queixa mal definida
De quando existe, só porque existe.



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